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Retorno ao toque
Nesta individual, já inicialmente, a artista retoma o seu contato com a argila, matéria com a qual trabalha na sua produção escultórica onde o corpo feminino ganha forma através das suas mãos em gestos que modelam a matéria. Pequenos torsos de barro são formados e deformados na dimensão de sua mão. Para este trabalho, especificamente, a artista não optou, como de costume, pela queima, o que acaba conferindo às esculturas um caráter efêmero. Entretanto, nesta exposição, Nattacha Gil utiliza a fotografia para serializar a multiformidade destes corpos femininos e traz, de certa forma, reflexões sobre o que é singular e o que é universal na construção da imagem de tais corpos; nos confrontando com uma série de torsos que lembram as imagens arquetípicas das Vênus presentes em nosso imaginário.

Como referência ao trabalho de Nattacha, nos remetemos a Anna Maria Maiolino, por sua abordagem das questões sobre o igual e o diferente, e por evidenciar a relação entre a dimensão pessoal e a dimensão objetiva. Assim, percebe-se na produção de Nattacha uma aproximação discursiva sobre questões presentes na obra de Maiolino, relacionadas ao corpo, como também de ordem identitária na medida que trata do feminino em sua arte. É possível perceber alguns procedimentos em comum como a serialização de formas, o raciocínio construtivo de fôrmas, as relações do dentro e fora, cheio e vazio; além de afinidades na escolha de materiais pela importância que a argila tem na produção de ambas. Nesse aspecto, outra artista com a qual Nattacha mantém algum diálogo é Celeida Tostes. É possível perceber no trabalho da artista a gestualidade e o desenvolvimento de um olhar arqueológico contemporâneo que tanto marcaram a obra de Celeida.

Na exposição, Retorno ao toque, a artista lança mão também do vídeo como recurso que possibilita evidenciar o processo do seu fazer escultórico se apropriando do ambiente digital. Apresenta um vocabulário gestual em sequências de repetições enfáticas para a criação de seus torsos. Esta repetição marcante cria um ritmo que evoca a ancestralidade pelo gesto de sovar o barro. Neste vídeo, a sonoridade presente e a luz modelada pela artista sugerem uma ambiência ritualística que acontece no espaço doméstico.

Retorno ao toque convida a uma experiência sensível através do olhar da artista capaz de evocar uma imagética que vem de um legado feminino. Trata-se de perceber a linhagem de mulheres artistas que contribuíram para construção de uma narrativa na qual Nattacha Gil se insere. Assim, se materializa sob diferentes linguagens uma escuta ao corpo que se projeta agora neste ambiente virtual. Nesta exposição, Nattacha articula a tatilidade pela presença digital do meio expositivo com uma outra tatilidade que remete a um sentido ancestral.

Flávio Medina e Paula Souza.
https://nattachagil.wixsite.com/retornoaotoque
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