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Tudo para facilitar seu contato com a arte
A presente mostra individual de Guido Lamim traz seu recente trabalho Iart - Delivery de Obras de Arte, fruto de seu interesse na crítica mercadológica, em razão das interferências do mercado na projeção profissional de jovens artistas e sua inserção no circuito da arte contemporânea. Tal posicionamento crítico ao viés classista e elitizante do circuito da arte se projeta neste trabalho em tom irônico propondo um ruído comunicacional. O artista se apodera de uma estética comercial, característica do aplicativo de delivery Ifood, para elaborar seu catálogo ficcional de venda de obras de arte. Denuncia, assim, o absurdo de uma lógica capitalística presente na arte contemporânea que ainda insiste em capturar subjetividades. Ao acessarmos o Iart nos deparamos com a interface de uma plataforma que nos oferece uma variedade de obras, organizadas por categorias, e estrategicamente pensadas para facilitar o contato do cliente com os produtos à venda. Guido opera com os estereótipos da arte e com os mecanismos homogeneizadores do circuito comercial da arte. Seu olhar crítico se volta tanto para as filigranas da linguagem visual quanto para a escrita, e é divertido perceber isso ao percorrer o catálogo.
A genealogia artística por onde Guido se fundamenta vem dos pressupostos da arte conceitual. A verve debochada de Duchamp em sua crítica à instituição da arte, abriu caminho para que vários artistas, desde os primórdios da arte conceitual até à contemporaneidade, pudessem experimentar novas compreensões sobre a arte e romper com paradigmas. Destaca-se nesta linhagem Marcel Broodthaers, com o “Museu de Arte Moderna, Departamento das Águias”. Essa invenção de Broodthaers é fundamental para compreender a aproximação entre o ficcional e a realidade, que são utilizados como ferramentas críticas, geradoras de questionamentos acerca das instituições e do mercado da arte. Assim, Iart dialoga com artistas que através de suas proposições transgressoras tensionaram noções acerca do campo da arte.
A apropriação da estética publicitária feita por Guido em Iart é, por seu posicionamento crítico, uma estratégia para confrontar contradições da arte-mercadoria. Inserir-se no mercado de arte impõem uma negociação entre a subjetividade do artista e os mecanismos de captura dessa subjetividade imposta pelos aparelhos mercadológicos. Guido, articula essa proposição se valendo da invenção de um menu de artistas, baseado em personas existentes na vida real, algumas herdeiras de um clã. Cria suas falsas mini bios, legendas para as obras; atribui os preços para essas obras ficcionais, bem como, taxas de entrega de serviço delivery. Ao friccionar a ficcionalidade com a realidade, Guido, traz entre outras questões, a discussão Benjaminiana sobre a aura do artista, além de evocar reflexões sobre o simulacro na arte.
Ao hackear, por assim dizer, a mídia digital para expor seu Iart, Guido Lamim aponta para os desejos gerados pela mídia subjugante, para as cumplicidades intrincadas pela disseminação da cultura de consumo e para os maneirismos que se infiltram no circuito da arte contemporânea. Arte como mercadoria ou mercadoria como arte?
Flávio Medina e Paula Souza
iartdelivery.wixsite.com/arte
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